Livro conta a história da amante de 14 anos de Perón

Polêmica
Ela tinha 14, ele 60: o depoimento da jovem que foi amante de José Domingos Perón, um dos maiores ícones da história argentina
Depois de Evita, Perón viveu com uma adolescente. Livro conta que a menina foi morar com Perón. Ela dormia no quarto de Evita.
“Nos momentos anteriores à separação, quando ele foi deposto, eu lhe servi o café que ele gostava e conhaque”.
Quando ele me beijou, quando saía da residência, me disse: “Leve os cachorrinhos, nós nos veremos logo, boa sorte”, eu era apenas uma mulher muito triste, com muito medo. Ninguém, ninguém poderá compreender todo o sofrimento pelo qual eu passei”.
Essa mulher triste faz parte da história argentina. Ela se chamava Nelly Rivas. Era 1955. O homem do qual ela se despedia era Juan Domingo Perón, que tinha 60 anos, era o presidente constitucional e estava sendo deposto por um golpe de Estado.
Eles tinham vivido juntos por mais de um ano, na residência presidencial da Recoleta. Lá ela comemorou o aniversário de 15 anos. Em 1956, a ditadura julgaria Perón por estupro. De onde estava preso após o golpe, Perón lhe mandou duas cartas. Ele dizia que não se arrependia “de ter renunciado à guerra civil”. Ele lhe dizia “você é a única coisa que eu tenho e a única coisa querida que me resta”. O cabeçalho dizia “Querida nenita” e a assinatura: “Seu papai”*.
A história é conhecida, mas agora Juan Ovidio Zavala, que foi advogado dos pais de Nelly –acusados de cumplicidade no julgamento por estupro– acrescenta o depoimento da menina, que ele escutou para montar a defesa. Nelly Rivas morreu em 2012.
Zavala é um radical que havia sido torturado no primeiro governo de Perón e que no governo militar encabeçado por Eduardo Lonardi foi Diretor Nacional de Penitenciária. Ele publica agora suas anotações –e as atuações do tribunal militar que julgou Perón– no livro Amor e violência. A verdadeira história de Perón e Nelly Rivas, que está prestes a ser publicada na Argentina.
Aqui, alguns trechos do depoimento recolhido por Zavala:
Origens de Nelly
“Ir e estar na UES de Olivos era para mim como estar no céu. Nós, meus pais e eu, morávamos na casa do zelador, que constava apenas de um quarto, banheiro, cozinha e lavanderia. Minha mãe era a zeladora que limpava das cinco da manhã até as dez da noite (…). Meu pai trabalhava na fábrica de chocolates Noel. (…) Por isso, um dia que eu me sentei ao lado do presidente durante o almoço, eu lhe contei sobre o nosso problema de moradia e lhe pedi uma casa daquelas que a Ajuda Social Eva Perón dava”.
“Queríamos ser Evita”
“Seria uma grande falsidade não reconhecer que todas nós queríamos ser uma segunda Evita. Com a idade que nós já tínhamos, ele alimentava o nosso romantismo e as nossas agitações corporais.”
No quarto de Evita
“Assim, procurando-o, desejando-o, esperando-o, chegou aquele dia em que eu tive que levar Monito e Tinolita à residência de Agüero. (…)
Não me tiraram de lá nunca mais. Um dos quartos que não tinha destino, que ninguém usava e que tinha sido o quarto de Evita, foi onde eles acabaram me colocando”.
Dormir com Perón
“Dormi sozinha várias noites, enquanto minha imaginação voava a alturas tão inacessíveis quanto profundas eram as minhas paixões. (…) Na quarta noite eu juntei coragem para propor ao general que assistíssemos televisão juntos. Depois dessa primeira noite eu me instalava no quarto do general para ver televisão, mesmo se ele não tivesse chegado. Mais de uma semana, que me pareceu um século, fizemos isso e depois eu voltava para o meu quarto”.
Lua de mel
«Zavala, eu não digo muito, mas o senhor imagina que já fazia tempo que eu me sentia a mulher dele. Ele me tratava como tal e o senhor acha que eu não assumia essa condição? Alguma pessoa má disse, e muitas outras repetiram com o afã de causar dano ao general, que o Festival de Mar del Plata havia sido a nossa lua de mel. O senhor acha que se tivesse sido mesmo, isso estava errado?”

Acerca de Napule

es Antonio Cicioni, politólogo y agnotólogo, hincha de Platense y adicto en recuperación a la pizza porteña.

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