Serra promete mudança radical e política externa ‘sem partidarismo’

DANIELA LIMA
VALDO CRUZ
MACHADO DA COSTA
DE BRASÍLIA
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Em seu primeiro discurso à frente do Itamaraty, o chanceler José Serra apresentou dez novas diretrizes para o órgão e afirmou que o país deixará de guiar sua diplomacia por interesses «de um governo ou um partido» em favor das prioridades do «Estado e da nação». Segundo ele, a ordem é assumir «com os olhos no futuro, não no passado».
Serra afirmou que o Brasil passará a priorizar acordos bilaterais e fez uma menção específica à Argentina como parceiro preferencial na América Latina.
O chanceler disse que o multilateralismo priorizado pelo país na última década fracassou e deixou o Brasil fora dos acordos bilaterais que alçaram economias de outras nações. «Vamos ampliar ainda o intercâmbio com parceiros tradicionais», disse, citando Estados Unidos, China e Japão, além de União Europeia como exemplos preferenciais. Ele ainda disse que não abdicará de negociações com a África e fez uma provocação.
«Ao contrário do que se procurou difundir, a África moderna não pede compaixão», afirmou. Segundo ele, a estratégia correta de negociação comercial com o continente nunca foi aplicada «por estratégias publicitárias».
No discurso, Serra também procurou neutralizar os temores de que terá foco apenas no comércio exterior e disse que a pasta não abandonará as «tradições diplomáticas».
Num recado claro a países como a Venezuela, disse que o Itamaraty será vigilante a violações da «democracia, liberdades e direitos humanos em qualquer país».
Ele ainda prometeu que atuará fortemente em fóruns de discussão sobre o meio ambiente e destacou que o Brasil deve liderar as decisões nessa área por ter em seu território a Amazônia e a maior reserva de água doce do mundo. A atenção enfática, argumentou, poderá trazer recursos de instituições internacionais preocupadas com a questão.
O chanceler fez um forte aceno ao corpo diplomático e servidores do órgão ao prometer se esforçar para tirar o Itamaraty do estado de»penúria» no qual ele se encontra, situação que atribuiu à «irresponsabilidade fiscal» do governo da presidente afastada Dilma Rousseff.
Já na abertura de sua fala, ele mencionou as dificuldades financeiras do órgão e brincou com o ministro do Planejamento, Romero Jucá, a quem, como mostrou a Folha, reivindicou a destinação de mais de R$ 800 milhões para cobrir um rombo deixado pelo governo de Dilma.
«Vamos recuperar a capacidade de ação do Itamaraty. Nossa diplomacia terá que gradualmente se atualizar e se modernizar», disse. «A diplomacia do século 21 não pode repousar sua ação na exuberância da retórica. Deve fazer a um só tempo o discurso político e o resultado concreto.»
Serra foi muito aplaudido ao se dirigir aos servidores do órgão. O chanceler acenou com forte disposição de resgatar a auto-estima do corpo diplomático e afirmou que a pasta, «no governo do presidente Temer», voltará «ao núcleo central do poder». Ele prometeu valorizar a carreira.
TEMER
Serra fez questão de agradecer pessoalmente ao presidente interino e disse ter debatido com ele todos os pontos de seu discurso. O chanceler afirmou que Temer leu todas as linhas e que opinou sobre alguns trechos. «Claro que levei em consideração», brincou.
A cerimônia de transmissão de cargo do tucano foi prestigiada por diversos políticos, antigos aliados. Até o ex-presidente José Sarney, homenageado em discursos, inclusive do novo chanceler, foi ao ato. Ele vinha se mantendo distante de grandes eventos após ter sofrido um acidente que fraturou seu ombro.
Estavam presentes ministros como Jucá, Gilberto Kassab (Comunicações e Ciência e Tecnologia) e Justiça (Alexandre de Moraes). Representantes do empresariado também marcaram presença. Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), disse que a troca de comando no ministério é uma «esperança para o comércio exterior do Brasil.
Ele destacou um dos pontos da fala de Serra que considerou central: a intenção do novo chanceler de participar da elaboração de políticas para controle de fronteiras. Acredita que o investimento nessa área é prioritário para barrar a entrada ilegal de mercadorias, como roupas, no país. Segundo ele, essa rota dos produtos ilegais serve, inclusive, para camuflar o tráfico de armas para o país.

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