Quando Mauricio Macri, 57, assumiu a Presidência da Argentina, há um ano, após virar o placar do primeiro turno da eleição contra o governista Daniel Scioli, o que a maioria dos analistas e de seus eleitores esperava era que seu governo obtivesse triunfos na economia, mas que tivesse dificuldades na área política.
Isso porque o engenheiro, filho de um dos empresários mais ricos da Argentina, se definia como um gestor, não como um político tradicional. Macri, que passou anos trabalhando nas empresas do pai e na presidência do Boca Juniors, construiu seu perfil como um administrador que se mostrava pouco preocupado em abraçar compromissos ideológicos.
Suas promessas no campo econômico convenceram a maioria dos eleitores de que seria a pessoa indicada para tirar a Argentina da crise em que vivia —havia mais de dois anos que o país não crescia.
A ideia era derrubar as medidas protecionistas do kirchnerismo e «voltar ao mundo», como repetia na campanha, querendo dizer retornar ao mercado internacional, do qual de fato a Argentina esteva afastada desde o «default» de 2002.
Um ano depois de tomar posse, porém, a análise inicial aparece invertida. Macri é considerado um êxito na política, chegando a este primeiro aniversário com 55% de aprovação popular, um verdadeiro recorde na região, mas coleciona uma série de números decepcionantes na economia.
Comparando com o quadro de 2015, a Argentina piorou em vários índices sociais e econômicos. A inflação foi de 26,5% para 40% e o desemprego, de 7,1% para 8,5%. Isso ajudou a fazer crescer a taxa de pobreza, acrescentando à população de pobres mais 1,4 milhão de argentinos. Além disso, o PIB encolheu e o país vem se endividando a cada dia.
Macri esperava que as medidas bruscas que tomou no início —como a retirada do cerco ao dólar e das travas ao comércio exterior— dessem uma injeção de ânimo na economia e atraíssem a atenção dos investidores estrangeiros.
Economistas se dividem quanto à eficiência dessas medidas repentinas. Afinal, o peso argentino se desvalorizou em 42% e o investimento de fora não veio como se esperava, devido principalmente à desaceleração da economia mundial.
Curiosamente, tirando uma série de manifestações de rua contra o tarifaço —aumento repentino das tarifas de eletricidade, água e combustíveis— não há sinais de um retorno dos «panelaços», pelo menos por enquanto.
«Estamos tendo um desempenho medíocre na economia. Mas a ausência de protestos e a boa aprovação de Macri devem-se ao fato de que não se esperava tanto dele. As pessoas queriam deixar para trás o kirchnerismo, e que o país se normalizasse. Ninguém deseja estar à beira do colapso, como nos aconteceu tantas vezes. Macri consegue passar uma sensação de ‘normalização’. É a mediocridade, mas não é o caos», diz à Folha o analista político Marcos Novaro.
Para o estudioso, porém, esse quadro pode se alterar em 2017.
«Nos primeiros meses do governo, era fácil jogar a culpa do que estava mal no país nos erros do kirchnerismo, mas não se pode usar essa desculpa para sempre. Se o governo não melhorar o desempenho econômico, pode perder apoio nas eleições.»
Em outubro do ano que vem, a Argentina renova parte de seu Congresso em eleição legislativa. A coligação Cambiemos, do presidente Macri, que já não possui maioria no parlamento, pode encolher ainda mais, caso a economia não melhore.
O governo, porém, exalta o ano como positivo. «Me dou uma nota 8», disse Macri, quando pediram que analisasse seus primeiros doze meses no cargo. O presidente também promete que, em 2017, o país crescerá 3%.
Neste primeiro aniversário, o governo ressaltou que a Argentina teria de fato «voltado ao mundo». Essa imagem foi reforçada pelas visitas de Barack Obama (EUA), François Hollande (França), Shinzo Abe (Japão), Justin Trudeau (Canadá) e pelas investidas de Macri para aproximar-se da Aliança do Pacífico e de territórios dos quais o kirchnerismo tinha se afastado, como o Fórum de Davos.
Outra estratégia que vem ajudando o presidente a manter-se com boa imagem é um inteligente uso das redes sociais, já observado na campanha de 2015. Enquanto a conta do Instagram de Macri, por exemplo, o acompanha em cada inauguração ou visita a cidades do interior, a de sua mulher, Juliana Awada, passa a mensagem da «família ideal» constituída pelo casal e a doce menina Antonia.
O mesmo ocorre no Twitter e no Facebook, com o detalhe de que as fotos usadas dos atos e encontros a que assiste o presidente são sempre pouco usuais e nada parecidas com material institucional de propaganda.
Isso porque o engenheiro, filho de um dos empresários mais ricos da Argentina, se definia como um gestor, não como um político tradicional. Macri, que passou anos trabalhando nas empresas do pai e na presidência do Boca Juniors, construiu seu perfil como um administrador que se mostrava pouco preocupado em abraçar compromissos ideológicos.
Suas promessas no campo econômico convenceram a maioria dos eleitores de que seria a pessoa indicada para tirar a Argentina da crise em que vivia —havia mais de dois anos que o país não crescia.
A ideia era derrubar as medidas protecionistas do kirchnerismo e «voltar ao mundo», como repetia na campanha, querendo dizer retornar ao mercado internacional, do qual de fato a Argentina esteva afastada desde o «default» de 2002.
Um ano depois de tomar posse, porém, a análise inicial aparece invertida. Macri é considerado um êxito na política, chegando a este primeiro aniversário com 55% de aprovação popular, um verdadeiro recorde na região, mas coleciona uma série de números decepcionantes na economia.
Comparando com o quadro de 2015, a Argentina piorou em vários índices sociais e econômicos. A inflação foi de 26,5% para 40% e o desemprego, de 7,1% para 8,5%. Isso ajudou a fazer crescer a taxa de pobreza, acrescentando à população de pobres mais 1,4 milhão de argentinos. Além disso, o PIB encolheu e o país vem se endividando a cada dia.
Macri esperava que as medidas bruscas que tomou no início —como a retirada do cerco ao dólar e das travas ao comércio exterior— dessem uma injeção de ânimo na economia e atraíssem a atenção dos investidores estrangeiros.
Economistas se dividem quanto à eficiência dessas medidas repentinas. Afinal, o peso argentino se desvalorizou em 42% e o investimento de fora não veio como se esperava, devido principalmente à desaceleração da economia mundial.
Curiosamente, tirando uma série de manifestações de rua contra o tarifaço —aumento repentino das tarifas de eletricidade, água e combustíveis— não há sinais de um retorno dos «panelaços», pelo menos por enquanto.
«Estamos tendo um desempenho medíocre na economia. Mas a ausência de protestos e a boa aprovação de Macri devem-se ao fato de que não se esperava tanto dele. As pessoas queriam deixar para trás o kirchnerismo, e que o país se normalizasse. Ninguém deseja estar à beira do colapso, como nos aconteceu tantas vezes. Macri consegue passar uma sensação de ‘normalização’. É a mediocridade, mas não é o caos», diz à Folha o analista político Marcos Novaro.
Para o estudioso, porém, esse quadro pode se alterar em 2017.
«Nos primeiros meses do governo, era fácil jogar a culpa do que estava mal no país nos erros do kirchnerismo, mas não se pode usar essa desculpa para sempre. Se o governo não melhorar o desempenho econômico, pode perder apoio nas eleições.»
Em outubro do ano que vem, a Argentina renova parte de seu Congresso em eleição legislativa. A coligação Cambiemos, do presidente Macri, que já não possui maioria no parlamento, pode encolher ainda mais, caso a economia não melhore.
O governo, porém, exalta o ano como positivo. «Me dou uma nota 8», disse Macri, quando pediram que analisasse seus primeiros doze meses no cargo. O presidente também promete que, em 2017, o país crescerá 3%.
Neste primeiro aniversário, o governo ressaltou que a Argentina teria de fato «voltado ao mundo». Essa imagem foi reforçada pelas visitas de Barack Obama (EUA), François Hollande (França), Shinzo Abe (Japão), Justin Trudeau (Canadá) e pelas investidas de Macri para aproximar-se da Aliança do Pacífico e de territórios dos quais o kirchnerismo tinha se afastado, como o Fórum de Davos.
Outra estratégia que vem ajudando o presidente a manter-se com boa imagem é um inteligente uso das redes sociais, já observado na campanha de 2015. Enquanto a conta do Instagram de Macri, por exemplo, o acompanha em cada inauguração ou visita a cidades do interior, a de sua mulher, Juliana Awada, passa a mensagem da «família ideal» constituída pelo casal e a doce menina Antonia.
O mesmo ocorre no Twitter e no Facebook, com o detalhe de que as fotos usadas dos atos e encontros a que assiste o presidente são sempre pouco usuais e nada parecidas com material institucional de propaganda.