Impeachment de Dilma pode gerar «efeito Macri» à brasileira

O Brasil pode oferecer a mesma oportunidade de ganhos vista na Argentina aos investidores que apostaram no fim de um governo ligado à ex-presidente Cristina Kirchner e na vitória do opositor Mauricio Macri, mais próximo das demandas do mercado financeiro. O índice Merval, da bolsa de Buenos Aires, tem valorização de aproximadamente 66% em 2015. Na BM&FBovespa, após o anúncio do impeachment, o Ibovespa saltou 3,6%.
“O processo de impeachment oferece uma possibilidade de renovação. Isso abre uma trajetória potencial para os preços dos ativos similar à vista na Argentina, onde os investidores começaram a comprar muito tempo antes em antecipação para uma mudança de regime”, ressalta Jan Dehn, chefe de análise da gestora de recursos inglesa Ashmore, especializada em mercados emergentes e que tem sob seu guarda-chuva US$ 60 bilhões.
Em entrevista a O Financista, Dehn descreve a atual situação da administração brasileira como a de um “pato manco” – termo utilizado nos Estados Unidos para governos que não tem mais influência por estarem em um fim de mandato ou não terem a possibilidade de reeleição. “O Brasil precisa de uma forte liderança econômica e política”, afirma.
Veja abaixo a íntegra da entrevista:
O Financista: O senhor acredita que o processo pode resultar em um impeachment de fato?
Jan Dehn: Sim, absolutamente. Mas se isso vai acontecer ainda não é certo. Há muitas variáveis para dizer isso com certeza neste estágio. O que está claro, contudo, é que a probabilidade de impeachment cresceu. O processo não me preocupa porque seguirá o quadro constitucional. O Brasil já fez isso antes. Não é tão assustador.
Normalmente o impeachment é negativo para qualquer país, mas como a situação política e econômica do Brasil está ruim então mesmo uma pequena esperança de solução – na forma de um novo governo entre 6 a 9 meses – oferece um vislumbre genuíno de esperança.
O Financista: Qual pode ser o resultado disso para a economia brasileira? Estamos de volta ao ambiente das eleições de 2014 quando tínhamos dois lados: um visto como bom para a economia e outro como ruim?
Dehn: O Brasil está no fundo do poço. O atual governo é uma administração “pato manco” atolada em corrupção e em uma crescente desunião. O Brasil precisa de uma forte liderança econômica e política. A economia está em queda por problemas totalmente autoinfligidos. O gerenciamento irresponsável da economia sob o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega é a principal razão para as dificuldades de hoje.
A boa notícia é que a crise econômica é, em última análise, um problema cíclico. A deterioração fiscal é conhecida, o cenário ruim de crescimento é conhecido, a cruzada do judiciário contra a corrupção é entendida, os rebaixamentos são esperados e a taxa de câmbio do real contra o dólar parece realmente brigar para se defender em R$ 4. O Brasil sairá disso sem dar um calote soberano. O Brasil não vai ficar sem reservas ou ter uma crise no balanço de pagamentos. O Brasil não vai nem precisar do FMI. O único risco que acredito ainda não estar totalmente precificado é a possibilidade de uma corrida bancária impulsionada pelos problemas que engoliram o BTG.
O Financista: Em termos gerais, o senhor acredita que o impeachment será uma boa notícia para os mercados brasileiros? O senhor está comprando, ações ou títulos da dívida brasileira externos ou locais?
Dehn: Sim, impeachment é uma ótima notícia. Quase todas as potenciais notícias negativas estão precificadas. O processo de impeachment oferece uma possibilidade de renovação. Isso oferece uma trajetória potencial para os preços dos ativos similar à vista na Argentina, onde os investidores começaram a comprar muito tempo antes em antecipação para uma mudança de regime. De 6 a 9 meses é um período muito adequado para construir uma decente posição no Brasil.

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