Coluna Econômica
Disputa política x confronto, pombas x falcões. Este é o dilema da política brasileira para os próximos anos.
Há uma ebulição no cenário político, transformações profundas com a mudança de guarda nos dois principais partidos políticos pós-redemocratização – PT e PSDB -, a busca de protagonismo por agentes oportunistas – especialmente o STF (Supremo Tribunal Federal) e mídia, também ela submetida a grandes transformações.
Há dois cenários possíveis para o Brasil:
Cenário de normalização
Os partidos convergem para o centro, ampliando o leque das alianças partidárias, a exemplo das democracias europeias, e disputando quem entrega o melhor produto para o eleitor (qualidade de vida, desenvolvimento, gestão eficiente etc.). A disputa política se dá nas urnas.
Esse desenho comporta um partido social democrata um pouco à esquerda (PT), outro mais à direita, puxado por um presidenciável, partidos médios gravitando entre um e outro e pequenas agremiações ocupando a esquerda radical e a direita radical.
É o cenário provável para a democracia brasileira.
Cenário de crise
O cenário alternativo seria o de guerra, com grupos se digladiando em torno da guerra fria, do chavismo, do bolivarianismo, do imperialismo e de outros ismos que só servem como retórica política.
Os jogadores
Não se trata de um jogo com poucos jogadores comportando-se de forma homogênea. Em cada ponta há uma disputa interna, na qual o cenário de normalidade ou de crise desempenha papel essencial na luta pela hegemonia partidária.
Se prevalece o clima de paz, determinados grupos assumem a liderança partidária. Em caso de confronto, outros grupos se fortalecem. Esses interesses internos acabam se refletindo no resultado final.
Para entender o jogo, é importante debruçar-se sobre a situação interna de cada agente do jogo.
O PT
Historicamente, o PT foi constituído por três agrupamentos dominantes: os sindicalistas de Lula, os movimentos sociais da Igreja e os aparelhistas de José Dirceu, basicamente localizados em São Paulo. E um conjunto de tendências menores, regionais ou agrupadas em torno de personalidades com luz própria, como Luiza Erundina, Marta Suplicy etc.
As duas estrelas máximas sempre foram Lula, representando classes sociais – os sindicalistas e as organizações sociais ligadas à Igreja -, e José Dirceu, com seus quadros “aparelhistas”.
Dirceu teve papel essencial na unificação a ferro-e-fogo das ações do PT, abrindo caminho para o poder, mas comprometendo os fatores legitimadores da ação partidária. Inclusive a vitalidade interna do partido.
Em Brasilia, havia embates surdos entre ele e Lula.
O “mensalão” foi o divisor de águas. Sem a competição de Dirceu, Lula passou a comandar mudança radical no PT, com a indicação de Dilma para presidente e de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, visando mudar a imagem do partido e esvaziar os “aparelhistas”.
Mas o comando do partido ficou nas mãos de Rui Falcão, da ala Dirceu, depois da tentativa infrutífera de tomada do partido por Tarso Genro.
Agora, tem-se a disputa interna com vários embricamentos.
Pombas – Lula e Dilma. Ganham com o Cenário de Normalização.
Sem se imiscuir diretamente no PT, Lula aposta no fortalecimento da linha de institucionalização do partido. Dilma Rousseff segue fielmente a estratégia lulista, ao se afastar dos “mensaleiros” e definir uma divisória: entra na guerra só se tentarem atacar Lula. Aposta no esvaziamento das tensões (o que depende de outros personagens que serão analisados mais adiante) para a normalização política.
Falcões – a direção do PT. Ganha com o Cenário de Crise.
Em caso de guerra, há a necessidade da centralização das ações. E aí todos precisam se enquadrar sob o comando da direção partidária. O cenário que a fortalece é o da tentativa de desestabilização do governo; e também a solidariedade aos líderes caídos no julgamento.
A atuação do STF teve um efeito dúbio sobre essa disputa.
Ao condenar os réus, o STF e o Procurador Geral da República indicaram a inviabilidade do modelo “aparelhista”.
Ao carregar na retórica e nas interpretações de exceção, ao exagerar nas penas, no entanto, o STF vitimou os réus, exacerbou a indignação do partido, fortalecendo os falcões.
A atuação da mídia, e sua estratégia de guerra permanente, também fortalece os falcões.
A oposição
Até o momento, o partido líder da oposição, o PSDB, está amarrado à gerontocracia partidária, incapaz de renovação.
O Lula do PSDB deveria ser FHC; o Dirceu, José Serra.
Mas FHC não possui a visão política nem a liderança de Lula. É o chamado homem-água que se molda ao que vê pela frente. Quando percebe que há um acirramento político, radicaliza. Quando percebe que o tempo amaina, reflui. Tendo à disposição os laboratórios dos dois maiores estados do país, na hora de pensar o novo, convoca os velhos economistas do Real.
A diferença entre Dirceu e Serra é que Dirceu é capaz de se sacrificar pelo partido; e Serra capaz de sacrificar o partido por ele.
Para se adequar aos novos tempos, o PSDB deveria tomar uma série de atitudes, com baixíssima probabilidade de ocorrer:
Um pacto entre os governadores – especialmente Geraldo Alckmin de São Paulo e Antônio Anastasia, de Minas – assumindo maior protagonismo, em resposta à inação da direção partidária.
Sob a orientação dos governadores, fortalecimento do Instituto Teotônio Vilela com uma visão municipalista, trazendo para dentro Luiz Paulo Vellozo Lucas, José Aníbal, José Luiz Portella, Britto Cruz, Júlio Semeghini, os herdeiros das políticas sociais de Dona Ruth para pensar o novo e irradiar para o partido.
Tivesse fôlego, FHC seria a liderança capaz de conduzir à transformação do partido. Sem fôlego e sem ideias, só lhe resta apoiar-se na muleta da radicalização, com espaço garantido na mídia.
Em um cenário de crise, Serra ressurgirá do túmulo; se vingar o Cenário de Normalização, quem leva é o governador de Pernambuco Eduardo Campos.
A mídia
Hoje em dia é o principal falcão do jogo politico, o único personagem intocável, conforme demonstrou a CPMI de Cachoeira.
Seu grande poder atual reside no discurso da intolerância. Toda a rede de colunistas e colaboradores foi remontada visando o estado de guerra permanente. Haveria enorme dificuldade em uma reciclagem ou na volta do pluralismo dos anos 90. Além do mais, em um Cenário de Normalização, o PT continuará eleitoralmente imbatível. Tornou-se prisioneira do cenário de guerra.
Essa estratégia de guerra permanente é que fortalece os falcões tanto no PT quanto no PSDB, estimula o estrelismo de Ministros do Supremo, incentiva o ativismo política do Procurador Geral da República.
A mídia perde com o Cenário de Normalização; cresce com o Cenário de Crise. Daí sua aposta total no indiciamento de Lula, único fator capaz de romper o Cenário de Normalidade e jogar a política no Cenário de Crise.
Personagem
Ganha com Normalização
Ganha com Crise
PT
Lula e Dilma
Direção do PT
Oposição
Governadores e Eduardo Campos
FHC e Serra.
Outros agentes
Mídia
Disputa política x confronto, pombas x falcões. Este é o dilema da política brasileira para os próximos anos.
Há uma ebulição no cenário político, transformações profundas com a mudança de guarda nos dois principais partidos políticos pós-redemocratização – PT e PSDB -, a busca de protagonismo por agentes oportunistas – especialmente o STF (Supremo Tribunal Federal) e mídia, também ela submetida a grandes transformações.
Há dois cenários possíveis para o Brasil:
Cenário de normalização
Os partidos convergem para o centro, ampliando o leque das alianças partidárias, a exemplo das democracias europeias, e disputando quem entrega o melhor produto para o eleitor (qualidade de vida, desenvolvimento, gestão eficiente etc.). A disputa política se dá nas urnas.
Esse desenho comporta um partido social democrata um pouco à esquerda (PT), outro mais à direita, puxado por um presidenciável, partidos médios gravitando entre um e outro e pequenas agremiações ocupando a esquerda radical e a direita radical.
É o cenário provável para a democracia brasileira.
Cenário de crise
O cenário alternativo seria o de guerra, com grupos se digladiando em torno da guerra fria, do chavismo, do bolivarianismo, do imperialismo e de outros ismos que só servem como retórica política.
Os jogadores
Não se trata de um jogo com poucos jogadores comportando-se de forma homogênea. Em cada ponta há uma disputa interna, na qual o cenário de normalidade ou de crise desempenha papel essencial na luta pela hegemonia partidária.
Se prevalece o clima de paz, determinados grupos assumem a liderança partidária. Em caso de confronto, outros grupos se fortalecem. Esses interesses internos acabam se refletindo no resultado final.
Para entender o jogo, é importante debruçar-se sobre a situação interna de cada agente do jogo.
O PT
Historicamente, o PT foi constituído por três agrupamentos dominantes: os sindicalistas de Lula, os movimentos sociais da Igreja e os aparelhistas de José Dirceu, basicamente localizados em São Paulo. E um conjunto de tendências menores, regionais ou agrupadas em torno de personalidades com luz própria, como Luiza Erundina, Marta Suplicy etc.
As duas estrelas máximas sempre foram Lula, representando classes sociais – os sindicalistas e as organizações sociais ligadas à Igreja -, e José Dirceu, com seus quadros “aparelhistas”.
Dirceu teve papel essencial na unificação a ferro-e-fogo das ações do PT, abrindo caminho para o poder, mas comprometendo os fatores legitimadores da ação partidária. Inclusive a vitalidade interna do partido.
Em Brasilia, havia embates surdos entre ele e Lula.
O “mensalão” foi o divisor de águas. Sem a competição de Dirceu, Lula passou a comandar mudança radical no PT, com a indicação de Dilma para presidente e de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, visando mudar a imagem do partido e esvaziar os “aparelhistas”.
Mas o comando do partido ficou nas mãos de Rui Falcão, da ala Dirceu, depois da tentativa infrutífera de tomada do partido por Tarso Genro.
Agora, tem-se a disputa interna com vários embricamentos.
Pombas – Lula e Dilma. Ganham com o Cenário de Normalização.
Sem se imiscuir diretamente no PT, Lula aposta no fortalecimento da linha de institucionalização do partido. Dilma Rousseff segue fielmente a estratégia lulista, ao se afastar dos “mensaleiros” e definir uma divisória: entra na guerra só se tentarem atacar Lula. Aposta no esvaziamento das tensões (o que depende de outros personagens que serão analisados mais adiante) para a normalização política.
Falcões – a direção do PT. Ganha com o Cenário de Crise.
Em caso de guerra, há a necessidade da centralização das ações. E aí todos precisam se enquadrar sob o comando da direção partidária. O cenário que a fortalece é o da tentativa de desestabilização do governo; e também a solidariedade aos líderes caídos no julgamento.
A atuação do STF teve um efeito dúbio sobre essa disputa.
Ao condenar os réus, o STF e o Procurador Geral da República indicaram a inviabilidade do modelo “aparelhista”.
Ao carregar na retórica e nas interpretações de exceção, ao exagerar nas penas, no entanto, o STF vitimou os réus, exacerbou a indignação do partido, fortalecendo os falcões.
A atuação da mídia, e sua estratégia de guerra permanente, também fortalece os falcões.
A oposição
Até o momento, o partido líder da oposição, o PSDB, está amarrado à gerontocracia partidária, incapaz de renovação.
O Lula do PSDB deveria ser FHC; o Dirceu, José Serra.
Mas FHC não possui a visão política nem a liderança de Lula. É o chamado homem-água que se molda ao que vê pela frente. Quando percebe que há um acirramento político, radicaliza. Quando percebe que o tempo amaina, reflui. Tendo à disposição os laboratórios dos dois maiores estados do país, na hora de pensar o novo, convoca os velhos economistas do Real.
A diferença entre Dirceu e Serra é que Dirceu é capaz de se sacrificar pelo partido; e Serra capaz de sacrificar o partido por ele.
Para se adequar aos novos tempos, o PSDB deveria tomar uma série de atitudes, com baixíssima probabilidade de ocorrer:
Um pacto entre os governadores – especialmente Geraldo Alckmin de São Paulo e Antônio Anastasia, de Minas – assumindo maior protagonismo, em resposta à inação da direção partidária.
Sob a orientação dos governadores, fortalecimento do Instituto Teotônio Vilela com uma visão municipalista, trazendo para dentro Luiz Paulo Vellozo Lucas, José Aníbal, José Luiz Portella, Britto Cruz, Júlio Semeghini, os herdeiros das políticas sociais de Dona Ruth para pensar o novo e irradiar para o partido.
Tivesse fôlego, FHC seria a liderança capaz de conduzir à transformação do partido. Sem fôlego e sem ideias, só lhe resta apoiar-se na muleta da radicalização, com espaço garantido na mídia.
Em um cenário de crise, Serra ressurgirá do túmulo; se vingar o Cenário de Normalização, quem leva é o governador de Pernambuco Eduardo Campos.
A mídia
Hoje em dia é o principal falcão do jogo politico, o único personagem intocável, conforme demonstrou a CPMI de Cachoeira.
Seu grande poder atual reside no discurso da intolerância. Toda a rede de colunistas e colaboradores foi remontada visando o estado de guerra permanente. Haveria enorme dificuldade em uma reciclagem ou na volta do pluralismo dos anos 90. Além do mais, em um Cenário de Normalização, o PT continuará eleitoralmente imbatível. Tornou-se prisioneira do cenário de guerra.
Essa estratégia de guerra permanente é que fortalece os falcões tanto no PT quanto no PSDB, estimula o estrelismo de Ministros do Supremo, incentiva o ativismo política do Procurador Geral da República.
A mídia perde com o Cenário de Normalização; cresce com o Cenário de Crise. Daí sua aposta total no indiciamento de Lula, único fator capaz de romper o Cenário de Normalidade e jogar a política no Cenário de Crise.
Personagem
Ganha com Normalização
Ganha com Crise
PT
Lula e Dilma
Direção do PT
Oposição
Governadores e Eduardo Campos
FHC e Serra.
Outros agentes
Mídia